Quando era criança, jogava sozinho a um jogo muito popular na altura. Eu chamava-lhe o jogo de andar à roda sem parar. A ideia era rodar no mesmo lugar sem parar até cair e, perante a queda, ver tudo a andar à roda, o que já revelava um apetite particular pela instabilidade.
Em 2009, perante a crise da austeridade, voltei a jogar o mesmo jogo, mas já lhe chamava precariedade, à qual vinham associados sintomas de vertigem e fatalismo.
Em 2019 comecei a pensar numa peça que se intitularia danças precárias e em que procuro jogar o mesmo jogo que joguei em criança, praticando a curiosidade de eternizar a vertigem, mas agora de uma forma colectiva e tendo em vista ideias de manifestação, resistência, intermitência e devoção enquanto formas de acção coreográfica e política.
Danças Precárias são a hipótese que coloquei para imaginar como resistir ao abismo da precariedade, construindo partituras funâmbulas em que a devoção ao trabalho que escolhemos é a base possível para uma profissão que vive dentro de um labirinto sem saída aparente.